A relação de Anne de Green Gables com o Japão por Chihaya Ayase


Com a próxima estreia de "Anne Shirley", novo anime que adapta a obra de L. M. Montgomery, acho importante discutirmos um pouco sobre a popularidade de Anne de Green Gables no Japão. Lançado em 1908, Anne de Green Gables só foi lançado no Japão em 1952, porém a jornada para que isso acontecesse começou anos antes quando as vidas de Hanako Muraoka e Loretta Leonard Shaw se cruzaram.

Hanako Muraoka se formou na escoola Tokyo Eiwa Jogakuin, fundada pela Igreja Metodista do Canadá, em 1913 e logo depois começou a traduzir e publicar contos infantis. Em 1919, ela se casou com Keizo Muraoka e eles tiveram um filho juntos em 1920. Keizo era dono de uma gráfica e, após o grande terremoto de Kanto em 1923, o negócio faliu em 1926. Eles reiniciaram o negócio em sua casa e logo depois o filho de 6 anos de Hanako morreu, deixando-a deprimida.

Hanako Muraoka se formou na escoola Tokyo Eiwa Jogakuin, fundada pela Igreja Metodista do Canadá, em 1913 e logo depois começou a traduzir e publicar contos infantis. Em 1919, ela se casou com Keizo Muraoka e eles tiveram um filho juntos em 1920. Keizo era dono de uma gráfica e, após o grande terremoto de Kanto em 1923, o negócio faliu em 1926. Eles reiniciaram o negócio em sua casa e logo depois o filho de 6 anos de Hanako morreu, deixando-a deprimida.


Loretta Leonard Shaw se especializou em línguas modernas na Universidade de New Brunswick, lecionou na escola de gramática em Cambridge e retornou a Saint John (sua cidade natal) em 1904, onde buscou maneiras de cumprir seu trabalho missionário, indo servir no Japão no mesmo ano. Em 1932, ela se tornou Chefe do Departamento de Literatura Feminina e Infantil na Christian Literature Society of Japan.
No início da década de 1930, Hanako Muraoka e Loretta Leonard Shaw se conheceram na Christian Literature Society of Japan. Elas trabalharam juntas como editoras na revista “Children of Light”, e Loretta escreveu um artigo chamado “Utopia” discutindo como ela e seus colegas editores se consideravam embaixadores de suas culturas, e a melhor maneira de fazer isso era apresentar os melhores livros de cada nação umas às outras. Hanako também estava ocupada trabalhando como apresentadora de rádio, onde explicava as notícias para as crianças e ficou conhecida como 'Tia Rádio'.

Em 1939, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, Loretta deu a Hanako uma cópia de Anne of Green Gables como um presente de despedida, na esperança de que ela considerasse traduzi-lo para o japonês. Incapaz de ficar devido a problemas de saúde e pressões do tempo de guerra, Loretta retornou rapidamente para New Brunswick, no Canadá, e infelizmente faleceu de câncer em 29 de julho de 1940.

Depois que o Japão atacou Pearl Harbor em 1941, Hanako pediu demissão de seu emprego no rádio e os missionários com quem Hanako trabalhava foram forçados a deixar o país. Hanakao encontrou consolo no livro Anne of Green Gables, com os cenários pastorais verdes e a paixão de Anne pela literatura ressoando com sua própria infância. Em 1943, ela começou a traduzir secretamente o livro para o japonês, estando totalmente ciente de que corria o risco de prisão e até mesmo de morte se fosse pega com o livro da "nação inimiga". Hanako terminou a maior parte do livro durante a guerra e o guardou sempre que as sirenes de ataque aéreo disparavam.

Depois que o Japão atacou Pearl Harbor em 1941, Hanako pediu demissão de seu emprego no rádio e os missionários com quem Hanako trabalhava foram forçados a deixar o país. Hanakao encontrou consolo no livro Anne of Green Gables, com os cenários pastorais verdes e a paixão de Anne pela literatura ressoando com sua própria infância. Em 1943, ela começou a traduzir secretamente o livro para o japonês, estando totalmente ciente de que corria o risco de prisão e até mesmo de morte se fosse pega com o livro da "nação inimiga". Hanako terminou a maior parte do livro durante a guerra e o guardou sempre que as sirenes de ataque aéreo disparavam.

Quando a Segunda Guerra Mundial chegou ao fim, a indústria editorial japonesa estava em frangalhos. A censura rigorosa das forças de ocupação aliadas e a falta de dinheiro significavam que não havia chance de imprimir nada novo. No entanto, por volta da década de 1950, as coisas começaram a melhorar novamente e, em 1952, a editora Mikasa Shobo arriscou com o desconhecido autor canadense. Eles sugeriram o título Akage no An (Anne ruiva), mas Hanako odiou e quis chamá-lo de Madobe ni yoru shojo (A menina na janela).


Ela compartilhou isso com sua filha, que preferiu a ideia da editora, e percebeu que eram meninas de sua idade que leriam o livro. Ela então voltou à editora e concordou.
A partir dai, Anne se tornou um fenômeno no Japão, tendo seus 7 volumes seguintes publicados até 1959 no país, todos traduzidos por Hanako, além dos livros extras de Cronicas de Avonlea.
Os livros de Anne também ganharam outras traduções e edições ao longo dos anos, mas é de comum acordo entre estudiosos que a tradução de Hanako foi o que popularizou a obra no país.

Akiko Uchiyama, em "Akage No An in Japanese Girl Culture: Muraoka Hanako’s Translation of Anne of Green Gables.”, discute como Hanako usou da fala "colegial" comum em Shoujo Shosetsu (ficção para meninas) na tradução, provavelmente de proposito para alcançar esse publico, já que as falas de Anne e Diana originalmente não tinham esse apelo. 


Seja qual for o motivo, a fama de Anne de Green Gables é bem conhecida e em mais de uma geração, sendo japoneses uma boa parte dos turistas que vão todo ano até a Ilha do Principe Eduardo viver a experiência de Anne.
Mas não apenas com o turismo se prova essa relação. Anne ganhou diversas versões no Japão, sendo a mais conhecida o anime "Akage no An" de 1979, dirigido por Isao Takahata. O anime encantou diversos públicos ao longo das décadas, sempre sendo lembrado e ganhando novos merchans, além de em 2010 ter tido os primeiros 8 episódios reeditados como filme e levado aos cinemas japoneses.




Em 2009 tivemos o anime "Konnichiwa Anne: Befre Green Gables" baseado no livro "Before Green Gables" de Bulge Wilson, uma prequel autorizada de Anne, dirigido por Katsyoshsi Yatabe.



Mas Anne também virou mangá.
A primeira vez em 1984 por Keiko Sugimoto.








Porém, é a versão de 1997 por Yumiko Igarashi que tem mais popularidade. A "trilogia" "Akage no An", "An no Seishun" e "An no Aijou" adapta de forma resumida os três primeiros livros de Anne.





E em 2003 tivemos "Niji noTanji no Ann" 
por Chieko Hara adaptando
"Vale do Arco-Íris" (sétimo livro de Anne).




E atualmente, saindo junto ao anime, temos 
"Anne Shirley" na revista B's-LOG COMIC 
com arte de Akane Hoshikubo.








O Japão também teve diferentes Annes em palco ao longo dos anos, já tendo levado o musical "Anne of Green Gables - The Musical" de Norman Campbell e Don Harron para o público japonês, além de uma versão em opera e mais recentemente em 2024 o Ballet "Anne of Green Gables: the ballet" criado em 2019 por Alexandre Levkovich e Bengt Jorgen com base no musical clássico de 1965.



Anne é algo tão vivo no imaginário popular que é bem comum de se encontrar referências a obra em mangas e animes. Recentemente, sem procurar, eu achei duas. Uma citação direta em "Please Save My Earth" de Saki Hiwatari e uma referencia visual em "Mars" de Fuyumi Souryo.

Bom, é isso. Tem muita coisa a se falar sobre Anne e como sua linguagem conversa com obras shoujo até hoje, além de sua importância para ficção feminina japonesa, porém hoje quis apenas falar sobre o histórico de Anne de Green Gables. 

Anne Shirley estreia 4 de Abril e terá  transmissão pela Crunchyroll.


Minhas fontes (além de informações que existem na minha cabeça por motivos...): 
https://t.co/I9HJBVHi0M (a história da vida de Hanako Muraoka e Loretta Leonard Shaw é uma tradução daqui)
https://t.co/UJ3j9gaVPD
https://t.co/NuIpFPvpkE


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